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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

no mundo dos táxis (XII)

«Taxista - Boa noite.
Eu - Boa noite. É para a Margem Sul.
Taxista - Certo. Mais concretamente para onde?
Eu - Corroios. Mas depois eu indico-lhe o caminho, não se preocupe.
Taxista - Ah, mas eu conheço essa zona.
Eu - Ai sim? Então?
Taxista - Eu moro no Laranjeiro.
Eu - A sério? Então é perto de onde eu moro. Vou para o Miratejo. Então e se não for indiscriminação, por que trabalha em Lisboa? Rende mais?
Taxista - Eu antigamente morava em Lisboa.
Eu (*marlon a sentir-se confuso, tendo em conta que, bom, miratejo é uma zona um tanto ou quanto, vá, perigosa e, erm, horrível de se morar*) - Ah, compreendo... Então mas há quanto tempo se mudou?
Taxista - Há 4 anos.
Eu (*cada vez mais confuso*) - Ah... vejo. E antes morava onde?
Taxista - No Marquês do Pombal.

(Ponto de ordem à mesa: trocar o Marquês pelo Laranjeiro é como, vá, trocar um condomínimo privado em Telheiras com piscina, spa, e um jardinzinho zen com bambú e uma cascata na sala por uma casa ranhosa na Cova da Moura cuja única janela dá para uma ETAR)

Eu (*estupidamente confuso*) - Erm... certo. Mas, acha que fez uma boa escolha?
Taxista - É a casa dos meus sonhos! Sou muito mais feliz ali.

(Segundo ponto: Ninguém é feliz no Laranjeiro. Isto é o mesmo que dizer que o objectivo de vida de uma pessoa é ter a lua-de-mal no Cacém, ou ganhar o passe social da Carris num qualquer concurso televiso, ou ter o curso técnico-profissional intensivo de remoção de terras, aka, coveiro)

Eu - Mas então mora numa boa zona do Laranjeiro, certo? Tipo perto do Oásis ou isso?
Taxista - Moro sim. Mas é mais lá para baixo.
Eu (*fica desconfiado*) - Então onde é que é?
Taxista - Na rua da Escola Secundária, na Praceta do Minipreço.

(Terceiro ponto: Oh amigo, ninguém diz que a sua casa de sonho fica do outro lado da rua do início do bairro do Miratejo Cutelinho - e, não, o nome não provém do acaso da existência de uma loja fundada em 1800 e troca o passo, por uma família de alta burguesia com um apelido chique tipo Mello de Vasconcellos, que fabricava facas de renome internacional em porcelana -, que é, vá, um dos três piores bairros da área metropolitana de Lisboa segundo a Visão, tendo uma taxa de criminalidade per capita superior à da Quinta da Fonte, Cova da Moura, Buraca, Damaia, etc.)

Eu (*apavorado*) - Erm... E, erm, se me permite, não tem medo de viver ali?
Taxista: Medo? Mas medo porquê? Aquilo é tão pacífico!

(Quarto ponto: Claro! Então mas os sons dos tiros são na realidade, erm, fogo de artifício para celebrar a liberdade. E os carros de intervenção da polícia são carrocéis. E tudo aquilo é um circo! - lá que existem lá uns quantos cavalos e outros tantos camelos, existem)

Eu - Olhe, não é essa a percepção que tenho. Aliás, eu se fosse a si nem saía de casa quando o Sol se pusesse. Aquilo ali até tem, vá, alguma criminalidade.
Taxista - Olhe, nunca tive nenhuns problemas. Costumo sair, muitas vezes durante a noite para ir àquela pastelaria no Miratejo...
Eu - ... a Bela?
Taxista - Sim, essa mesmo.
Eu - Mas a pastelaria fecha tão tarde!
Taxista - Sim, mas eu normalmente só venho para casa por volta da uma/duas da madrugada.
Eu (*estupefacto*) - ... a pé?!
Taxista - Claro!

(Quinto ponto: Já percebi! Das duas uma: ou o senhor tem um fedor indiscritível que afasta mitras, basofes, chungas e ladrões e gatunos nas suas variantes feudais, ou então move-se a mircro-peidinhos como o Super-Homem o que lhe permite uma velocidade supersónica, invisível ao olhar humano. Qualquer uma destas hipóteses será sempre mais plausível que andar às 2 da manhã sozinho pelo Miratejo Cutelinho há 4 anos e ainda não ter sido na melhor das hipóteses, vá, estropiado)

Eu - Pois, compreendo. O que realmente me chateia no Miratejo (*oh para mim a ser irónico*) são as baratas. Também não tem o mesmo problema no Laranjeiro?
Taxista - Existem baratas no Miratejo?
Eu - Oh amigo, isso agora já é gozar comigo. Então elas são às dezenas na rua! Uma vez, ao pé da casa de um amigo meu, num raio de, vá, 10 metros e em menos de 5 minutos matei eu 23!
Taxista - Ah, mas eu nunca vi uma única barata em Miratejo.»


Conclusão: Tudo isto faz sentido! Sendo o Miratejo Cutelinho uma das maiores zonas de tráfico de droga do país (a par com cortarem pessoas em 7 pedaços e as atirarem para o lodo no moinho de maré - true story!) o senhor, na realidade, nunca saía à noite para ir à Pastelaria Bela. Ora, atravessava a rua, metia cavalo na veia (e aqui se entende a parte do Circo da coisa) e tudo aquilo parecia maravilhoso e adorável. Ou isso, ou o senhor é do Partido Comunista e finalmente descobriu o prado verdejante do Comunismo, em que borboletas voam e as flores irradiam beleza todo o ano (algo à Música no Coração), e chama-lhe Laranjeiro e, nitidamente, não é o mesmo que faz fronteira com o bairro em que vivo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

no mundo dos táxis (XI)

Eu - Bom dia, era para a Faculdade de Farmácia. E depressa, por favor, que estou atrasado para um exame.
Taxista - Com certeza.

(...)

Eu (repetindo baixinho para si próprio) - Esterno-cleido-mastoideu, trapézio, deltóide, grande peitoral...
Taxista (interrompendo) - Desculpe, que está a fazer?
Eu - Estou a estudar anatomia dos músculos. Como lhe disse, vou ter um exame.
Taxista - Mas é médico?
Eu - Não amigo. Como já disse umas quantas vezes vou ter exame. Na realidade estou no 1º ano de Ciências Farmacêuticas.
Taxista - E é bom nisso?
Eu - Neste tipo de matérias, sim. Há outras que nem por isso.
Taxista - Ah. Compreendo. E acha que tem qualificação para fazer diagnósticos?
Eu - Bom, se eu vier a trabalhar numa farmácia terei que os fazer diariamente.

(taxista pára o carro bruscamente no meio da Avenida das Forças Armadas e estaciona no passeio.)

Taxista (enquanto sai do carro, abre a porta dos passageiros e se senta ao meu lado) - Então, desculpe, mas podia ver o meu joelho? É que eu ando com umas dores há umas semanas que nem lhe conto.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

no mundo dos táxis - explicação.

Há uns tempos uma pessoa perguntou-me como eu me lembrava de tudo o que se passava nos táxis e se não estaria a inventar por serem histórias (ou estórias, como preferirem) tão esquizofrénicas. Responderei então às 2 perguntas:

1 - A técnica para me lembrar é simples: basta andar constantemente com um papel e uma caneta e, assim que saio no destino que quero, começo a escrever como se não houvesse amanhã e a tentar lembrar-me de tudo. Claro que há coisas que, entretanto, por via da memória, ficam ligeiramente adulteradas, especialmente certas palavras/expressões que foram utilizadas. Mas a ideia fica presente e, na realidade, tendo em conta que até me considero uma pessoa com uma óptima memória, pouco ou nada fica modificado;

2 - Não, não invento histórias. Claro que tudo isto não se passou em dois ou três meses. Tal como expliquei inicialmente, quando dei início à crónica, eu comecei-a porque eu costumava contar estas histórias a pessoas que conhecia e achavam interessante. Não tenho qualquer objectivo em inventar seja o que for. Se algum dia tiver popularidade, que seja pelo trabalho que desenvolvo e não por histórias de taxistas. Além disso, quem me conhece pessoalmente, sabe bem o quão este tipo de coisas é natural acontecerem-me.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

no mundo dos táxis (X)

Eu - Avenida D. Carlos I, por favor.
Taxista - Bom dia para si também!
Eu - Ai, desculpe, mas estou a ter um dia terrível e estou altamente stressado com o trabalho. Bom dia e espero que o trabalho lhe esteja a correr bem.
Taxista - Ah, mas olhe que o stress faz mal.
Eu - Eu sei, mas acho que também não conseguia viver de outra forma.
Taxista - Gosta de trabalhar?
Eu - Pode-se dizer que sim. Sabe, quando temos paixão numa coisa dedicamo-nos a ela a 100%.
Taxista - Pois, eu compreendo perfeitamente.

(...)

Taxista - Desculpe, mas eu tenho que lhe fazer esta pergunta: qual é o seu signo?
Eu (um pouco surpreso) - Touro. Mas não acredito muito nisso.
Taxista - Pois olhe, devia. Nunca erra. E eu bem me pareceu que era touro.
Eu (sussurrando) - Devo ter uns cornos gigantes, eu...
Taxista - Desculpe? Não percebi.
Eu - Ah, desculpe. Estava a dizer que, erm, gostava muito de saber o porquê de achar isso.
Taxista - Dei-me muito bem consigo. E sabe, eu dou-me sempre bem com touros. Sou escorpião!
Eu (com o ar mais "and I care why?" de sempre) - Ahhhhh. Estou a ver.
Taxista - Aliás, assim que o vi percebi que era uma pessoa especial.
Eu - Erm, não sei se estou a compreender.
Taxista - Sabe, nota-se nos seus olhos que é uma pessoa profunda e que sabe o que quer da vida. Gosto de pessoas assim. Normalmente encantam-me.
Eu (sussurrando) - ... afinal até estou a compreender.
Taxista - Desculpe? O senhor fala muito baixo, sabia?
Eu - Estava dizer que me sinto muito lisonjeado. Mas, sabe, erm, é uma pena porque eu sou uma pessoa comprometida.
Taxista - Não faz mal. Ele não tem que saber.
Eu (já um pouco encavacado com esta situação) - Mas, erm, é uma, erm, mulher. Muito bonita. E ruiva! Muito ruiva! E, erm, tem olhos, verdes. Acho eu.
Taxista - Oh, e nunca quis experimentar nada de diferente?
Eu (completamente encavacado) - Eu?! Jamais! Sou demasiado hetero!!!
Taxista - Bom chegámos.
Eu - Pois, quanto lhe devo.
Taxista - São X euros. Quer uma factura?
Eu - Não é preciso.
Taxista - Mas não quer meeeeeesmo?
Eu - Não, não, deixe estar.
Taxista - Oh, os touros são tão adoravelmente teimosos.
Eu - Erm... ok. Dê-me lá a porra da factura, mas despache-se que estou a morrer de pressa.
Taxista - Aqui tem e até um dia destes.
Eu - Erm, certo.

*Marlon olha para a factura onde se pode ler "Gostei muito de te conhecer, rapaz dos olhos profundos. O meu número é Y"*

no mundo dos táxis (IX)

Eu - Boa noite. Avenida de Berna, por favor.
Taxista (com um severo sotaque russo) - Boa noite.

(...)

Eu (a tentar meter conversa com o taxista) - Então e é de onde?
Taxista - Moscovo, na Rússia.
Eu - Ah, nunca fui, mas gostava bastante de ir. Então e está cá há quanto tempo?
Taxista - Há 10 anos.
Eu - E gosta mais de cá estar ou na Rússia?
Taxista - É diferente. Portugal é melhor. As coisas não Rússia não funcionam. Aqui funcionam mal, mas funcionam.
Eu - Sim, é verdade. Então e veio-se embora na altura do Boris Iéltsin, certo?
Taxista (a fazer uma paragem brusca e a dar um pião no meio da Avenida da República) - NÃO ME FALE DESSA COISA! (vira-se para trás e ergue o punho na minha direcção) POR CAUSA DELE A MINHA FAMILÍA PASSA FOME E A MINHA MULHER VIROU $%&$#.
Eu (com muito receio, depois de um russo ter feito aquilo) - ... virou o quê?
Taxista - ... como é que se diz? Prostituta.
Eu - ... Ah. Então, erm... e o Putin?
Taxista (a berrar novamente e a carregar no acelerador) - ESSA COISA É UM ASSASSINO!!! É POR CAUSA DELE QUE...
Eu (tentando interromper e todo cagado de medo) - *cof cof*... desculpe, mas...
Taxista - QUE QUER?
Eu - Passámos a Avenida de Berna, era ali atrás.

*Taxista faz um peão e começa a conduzir em contra-mão em plena Avenida da República*

Eu (borrado de medo) - AI QUE O RUSSO É LOUCO!
Taxista (muito indignado) - $%#%#§£€@£!!!
Eu (com medo de o abordar) - ... desculpe?
Taxista - Estava a mandar vir com o GPS. (taxista dá um murro no GPS) #$#£§£#"!!!
Eu (terrificado) - ... podemos, erm, parar, erm, aqui?
Taxista - 9 euros e 80.
Eu (atira uma nota de 10 e sai a correr porta fora) - FIQUE COM O TROCO!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

no mundo dos táxis (VIII)

Eu - Boa noite. Era para Corroios, se faz favor.
Taxista - Com certeza. Mas olhe que eu não sei onde isso é.
Eu - Não há problema. Depois de passarmos a ponte eu indico o caminho.

(...)

Taxista - Então e gosta de viver na Margem Sul?
Eu - Sinceramente? Nem por isso. Vivo primordialmente em Lisboa e só vou à Margem Sul dormir, quando vou.
Taxista - Mas vive sozinho?
Eu - Erm... Não. Vivo com a minha mãe.
Taxista - Ah, mas já não tem pai?
Eu - Bom, tenho. Mas estão divorciados.
Taxista - Compreendo. E já são velhos?
Eu - Um pouco. Daqui a pouco batem a bota.
Taxista - Ah, mas isso é óptimo!
Eu - Desculpe?
Taxista - Bom, não é óptimo falecerem, claro. Mas é que, sabe, o meu irmão é dono de uma casa funerária aí na Margem Sul e, bom, assim sendo, olhe, fique com um cartão dele. Nunca se sabe quando poderá vir a dar jeito! Diga que vem da minha parte e ele dá-lhe um desconto. Ele é muito simpático e os preços são em conta. Além disso, como os seus pais já são velhos e como ainda é jovem e acredito que ainda não ganha bem, ambos ficam a lucrar com isto. Mas diga-me, ainda tem avós?
Eu (completamente perplexo) - Erm... erm... erm... tenho somente uma.
Taxista - Ah, é pena. Os meus pêsames. Mas olhe, se só já tem uma e acredito que já deva ser muito velha, também está quase a esticar o pernil. Assim o cartão até lhe dá jeito!
Eu - Erm... erm... erm... obrigado, creio.

(...)

Eu - Ora, então deixe-me aqui. Quanto lhe devo?
Taxista - Ora, são X. Mas como foi simpático não incluo a portagem na conta. Fica por minha conta.
Eu (ri-se) - É um desconto de morte!
Taxista (muito sério) - Desculpe, mas não achei piada. Não se fala assim tão levianamente da morte! É um assunto muito sério! Adeus e boa noite.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

no mundo dos táxis (VII)

Eu - Boa noite.
Taxista - Boa noite.
Eu - Era para, erm... olhe, leve-me para a Rua Sampaio Bruno, por favor.
Taxista - Tudo bem.
Eu - (*recebe um telefonema da L.) Então, tudo bem?
Taxista - (*não se apercebendo que eu estava ao telefone*) Bom, já tive dias melhores. E o senhor?
Eu - (*ainda ao telefone*) Olha, não sei. Mal, acho eu.
Taxista - Então, mas passa-se algo?
Eu - (*telefone*) Oh, sei lá, foi tudo tão rápido, tão inesperado. Sinceramente não estava mesmo nada à espera.
Taxista - Mas... quer falar?
Eu - (*telefone*) Oh sei lá. Só sei que fiquei completamente perplexo. Epá, podia-me ter dito muitas coisas: que estava farto de mim, que não aguentava com a vida que levo, que gostava de outra pessoa. Mas dizer-me que já não gostava de mim? Toda a gente diria que era ao contrário, no máximo. Não estava mesmo nada à espera disto dele.
Taxista - Dele? Ah, portanto, é "desses". Bom, eu não julgo. Sabe, eu tenho uma filha que também é...
Eu - (*telefone*) Pois está claro, mas estavas à espera do quê? Não se via logo?
Taxista - Bom, agora que fala nisso até se repara um bocadinho. Não que queira ofender, claro.
Eu - (*telefone*) Espera aí querida (*retira o telefone e fala para o taxista*) Ouça, eu não sei como lhe hei-de dizer isto de uma forma simpática mas, bom, eu não estava a falar consigo. Estava ao telefone.
Taxista - Ah. Pois. Desculpe...
Eu - (*volta a falar para o telefone*) Onde estávamos mesmo?

domingo, 30 de maio de 2010

no mundo dos táxis (VI)

(ora, vamos tentar reproduzir isto sonoramente. como o senhor tinha uma pronúncia transmontana bastante acentuada, eu trocarei todas as consoantes 's' por 'x' para que se perceba o martírio que aquilo foi.)

Eu - Bom dia. Era para... a bem dizer não sei onde fica aquilo. É uma rua que sobe da Basílica da Estrela até Campo de Ourique.
Taxista - Domingox Xequeira?
Eu (*rindo-se um pouco*) - Capaz.

(passado um pouco)

Eu - Já estou um pouco farto de estar parado aqui.
Taxista - É. Ixto hoje extá demasiado extranho. Ainda não perxebi muito bem porquê.
Eu - É que, sejamos sinceros, já aqui estamos há 10 minutos.
Taxista - Dexculpe, extá-me a gozar?
Eu - Hun? Perdão?
Taxista - Eu vou perguntar xó maix uma vex: extá-me a gozar?
Eu - Desculpe mas não o percebo.
Taxista - Ouxa, eu xei que tenho pronúnxia, mas daí a gozar-me...
Eu - Hun? Mas por que raio haveria eu de o gozar? Por mim desde que cumpra bem o seu trabalho não tenho razões de queixa suas.
Taxista - Voxê não me minta! De repente comexou a axentuar os éxes e a gozar-me!
Eu - EU? Ah. Já o percebi. Não, sou simplesmente sopinha de massa.
Taxista - É o quê?
Eu - Esqueça. Finalmente isto está a andar decentemente.

(passa um pouco de tempo. marlon começa a adormecer)

Taxista (*lança um berro enorme e fino à menina!*) - AI MEU DEUXXXX!!!
Eu (*acorda e dá um salto no banco de trás*) - Que se passa? Batemos? Matou alguém?
Taxista (*com a, ainda, voz estridente de menina*) - O POMBO, O POMBO!
Eu (*aparvalhado com ar de quem acabou de adormecer*) - Mas que pombo?
Taxista - Eu matei um pombo! Nem dei por ele. Ximplexmente meteu-xe na minha frente.
Eu - Oh, por amor da santa! É um pombo.
Taxista - Max é uma vida xagrada para nosso xenhor jexux crixto.
Eu - Está a brincar certo?
Taxista - Com o pombo?
Eu (*tenta aproveitar a situação*) - Não, nada disso. O pombo para mim já é história passada. Podemos fazer um teste? Experimente dizer "a serpente samanta sibiliva à sombra das suas sósias cintilantes e sarcásticas".
Taxista (*com voz de macho*) - AH! AFINAL GOZAVA COMIGO!
Eu - E afinal não grita sempre com voz estridente. Fico aqui. Muito obrigado por tudo e aqui tem o seu dinheiro.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

no mundo dos táxis (V)

«Eu - Boa noite. Era para a travessa do Conde Redondo, por favor.
Taxista (*com ar desconfiado*) - Certo. (*liga o carro*)
Eu - Está tudo bem?
Taxista - Podia só ir lá fora espreitar o pneu e ver se está tudo bem?
Eu - Erm. Claro. Mas olhe que eu não percebo nada de mecânica.
Taxista - Não faz mal.
Eu (fora do táxi) - Não vejo nada.
Taxista (começa a arrancar o táxi e grita para outro taxista) - VISTE ZÉ? EU BEM DISSE QUE CONSEGUIA. DEPOIS LOGO ME PAGAS A APOSTA!
Eu (perplexo e fora do táxi) - Então... e... a travessa?»

no mundo dos táxis (IV)

(só mesmo para agradar à clientela)

«Eu - Boa noite, era para a margem sul, Corroios.
Taxista - Tudo bem, mas olhe que não sei onde isso fica.
Eu - Não se preocupe, eu indico-lhe o caminho assim que sairmos da ponte.

(...)

Taxista - Que idade é que tem?
Eu - Erm... tenho 20. Porquê?
Taxista - Pensei que tivesse mais.
Eu - Pois. Costumam achá-lo.
Taxista - Mas faz-me lembrar o meu filho.
Eu - Erm, isso é bom, não?
Taxista - Sim. Ele trabalha como técnico de informática. Estuda informática?
Eu - Não não. (*marlon inventa um curso à pressa para não ter de explicar o que é Ciência Política e Relações Internacionais*) Estudo Arquitectura.
Taxista - Ah, então é mais como o meu outro filho.
Eu - Ah sim? Estuda onde?
Taxista - Na Faculdade de Arquitectura. Se calhar conhece-o.
Eu - Não creio. Passo lá pouco tempo. Às vezes ainda me questiono se sei onde aquilo fica.

(...)

Taxista (na ponte) - Desculpe, hoje estou bastante mal.
Eu - Compreendo. Todos temos dias assim.
Taxista - Sabe, é que a minha mulher me deixou por um rapaz mais novo.
Eu - Pois, isso é complicado, realmente.
Taxista - E o meu filho, sabe, aquele de arquitectura, não lhe falo há anos. Roubou-me o dinheiro todo.
Eu - Pois, isso também é complicado. Há filhos que não sabem bem como ser filhos.
Taxista (a chorar) - Eu já pensei em me matar.
Eu (*olha para o lado, vê o carro a andar em ziguezagues*) - Mas repare, a vida é bela... (*carro aproxima-se da berma da ponte. marlon entra em pânico*) E há passarinhos.
Taxista - Há passarinhos?
Eu - Sim, há passarinhos. Foi a primeira coisa que me lembrei de dizer.
Taxista (continua a chorar fortemente) - Sabe, eu pensei em atirar-me desta mesma ponte.
Eu (*em grande pânico e a pôr as mãos à cabeça*) - ESPERE AÍ! JÁ LHE DISSE QUE TENHO VERTIGENS?
Taxista (*ainda a chorar*) - Eu também. Por isso é que não me consegui atirar.
Eu - Mas tentou mesmo?
Taxista - Sim.
Eu - Certoooo. Olhe, já saímos da ponte. Que bom que é pisar terra firme, não é?

(...)

Eu - Ora, posso ficar aqui. Muito obrigado. (*marlon atira uma nota de 20 e sai porta fora a correr*) FIQUE COM O TROCO.»

wtf?

Em menos de 24 horas, três pessoas vieram dizer-me que adoram a minha crónica dos taxistas. Uma que conheço, outra que não conhecia e uma que me adicionou numa rede social de propósito para dizer isto.

Sinto-me ligeiramente famoso e sinto que deveria ponderar ter o blog privado. Há demasiada coisa deprimente aqui que não quero que as pessoas leiam.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

no mundo dos táxis (III)

«Eu - Bom dia, era para a Avenida de Berna, por favor.
Taxista - Com certeza. Tem algum destino preferido?
Eu - Aquele que me levar mais depressa porque já estou atrasado e esta greve não ajuda em nada.

(...)

Taxista (a gritar) - VAI À MERDA! SAI-ME DA FRENTE, CABRÃO!

(marlon fica apavorado)

Eu - Erm... está tudo bem?
Taxista - Tenho sérios problemas com o tráfego.
Eu - Pois.
Taxista - Desculpe, mas sabe, fico mesmo irritado com bichas.
Eu (rindo-me entre os dentes) - Depende das bichas.
Taxista - Ai, eu odeio-as todas! Sejam elas grandes, pequenas. É que por causa delas atraso-me e não consigo ir para o outro lado.
Eu (soltando uma gargalhada) - Pois, é o problema de muita gente. Não consegue ir para o outro lado. E as bichas às vezes são tramadas com isso.
Taxista - Vê? Concorda comigo. Há uns tempos fiquei parado 3 horas numa bicha enorme!
Eu (rindo-se bastante) - 3 horas? Epá, isso é muito! Eu quando demoro 1 hora e tal já digo que começa a ser muito. Não que me queixe, claro!
Taxista - Ah, mas queixo-me eu! Eu tenho mais que fazer da vida...
Eu - ...meter-se noutras bichas?
Taxista - Não, uma chega-me por dia.

(...)

Eu - Adeus, muito obrigado e resto de bom trabalho. E, olhe, cuidado com as bichas que elas às vezes são chatas.
Taxista - Muito obrigado. E eu que o diga!»

terça-feira, 20 de abril de 2010

no mundo dos táxis (II)

«Taxista - Boa noite.
Eu - Boa noite. Estação de Entre Campos, por favor.

(...)

Taxista - Odeio os GPS! Odeio-o tanto. Por mim eram todos queimados. São coisas nojentas, sabia?
Eu - Pois, acredito. Não tenho um porque, erm, bom, não tenho carro.
Taxista - Compreendo. Sabe quem é que me deu este?
Eu - Como deve calcular, não.
Taxista - A minha mãezinha quando ainda era viva. E só o tenho por ela. Se não fosse isso já o tinha partido todo.
Eu (revira os olhos) - Ceeeeerto. Ora, pode-me deixar aqui. Quanto devo?
Taxista - São X euros.
Eu - Muito obrigado. Boa noite e resto de bom trabalho.
Taxista - Muito obrigado.

(marlon sai do carro. taxista estica a cabeça para fora)

Taxista (a gritar) - E NÃO SE ESQUEÇA: NUNCA DEITE FORA O GPS QUE A SUA MÃEZINHA LHE OFERECER!»

no mundo dos táxis (I)

«Taxista - Boa tarde, para onde é que vai?
Eu - Avenida D. Carlos I.

(passado um pouco)

Taxista - Entra, pá!
Ela (de fora do táxi) - Não, espero pelo autocarro.
Taxista - Já te disse para entrares.

(marlon fica um pouco perplexo com a situação)

Ela - Desculpe. Boa tarde.
Eu - Boa tarde.
Taxista - É a minha mulher.
Eu - Ah, vejo.

(marlon volta a ler o livro. mulher sai do carro)

Taxista - É uma filha da puta jeitosa.
Eu (engasga-se) - Pois...
Taxista - Este casamento já deveria ter acabado há muito tempo.
Eu - Sabe que todos os problemas se resolvem, certo?
Taxista -Este não.
Eu - Pois, às vezes as pessoas não querem é resolver os problemas.
Taxista - Tem toda a razão. Mas sabe ela embirra com tudo e muda de personalidade como se não fosse nada.
Eu - Como o percebo...
Taxista - Eu por mim acabava este casamento.
Eu - Sabe, às vezes as pessoas não acabam porque se sentem mais seguras assim.
Taxista - Tem razão.

(marlon volta para o livro. passa mais um pouco de tempo)

Taxista - Desculpe perguntar, mas é casado?
Eu (engasga-se totalmente) - NÃO!
Taxista - Ah, como falava tão amargamente de relações.
Eu - Pois, acabei uma há pouco tempo.
Taxista - Na realidade este é o meu quinto casamento.
Eu - Compreendo. Esta foi a minha quinta relação.
Taxista - Somos parecidos, não acha?
Eu - Erm... sim, pode-se dizer que sim. Ora, fico ali naquele sinal.
Taxista - Aqui?
Eu - Sim, pode ser. Quanto lhe devo?
Taxista - Nada! Fez de meu psicólogo, não paga nada.»



Agora sim compreendo o porquê de a minha irmã ter ido para psicologia. E dizia ela que era pelo prazer de ajudar. Yeah right. Com viagens à borla ainda me pergunto se escolhi o curso certo.

vou mudar este blog.

Devido a acontecimentos recentes, vou criar, a partir de hoje, uma crónica sobre taxistas. Já que é o transporte público que mais utilizo (na realidade já conheço uns quantos taxistas) e como cada um é pior que o outro, achei por bem transpor para aqui.

Hope you like it.