domingo, 30 de maio de 2010

no mundo dos táxis (VI)

(ora, vamos tentar reproduzir isto sonoramente. como o senhor tinha uma pronúncia transmontana bastante acentuada, eu trocarei todas as consoantes 's' por 'x' para que se perceba o martírio que aquilo foi.)

Eu - Bom dia. Era para... a bem dizer não sei onde fica aquilo. É uma rua que sobe da Basílica da Estrela até Campo de Ourique.
Taxista - Domingox Xequeira?
Eu (*rindo-se um pouco*) - Capaz.

(passado um pouco)

Eu - Já estou um pouco farto de estar parado aqui.
Taxista - É. Ixto hoje extá demasiado extranho. Ainda não perxebi muito bem porquê.
Eu - É que, sejamos sinceros, já aqui estamos há 10 minutos.
Taxista - Dexculpe, extá-me a gozar?
Eu - Hun? Perdão?
Taxista - Eu vou perguntar xó maix uma vex: extá-me a gozar?
Eu - Desculpe mas não o percebo.
Taxista - Ouxa, eu xei que tenho pronúnxia, mas daí a gozar-me...
Eu - Hun? Mas por que raio haveria eu de o gozar? Por mim desde que cumpra bem o seu trabalho não tenho razões de queixa suas.
Taxista - Voxê não me minta! De repente comexou a axentuar os éxes e a gozar-me!
Eu - EU? Ah. Já o percebi. Não, sou simplesmente sopinha de massa.
Taxista - É o quê?
Eu - Esqueça. Finalmente isto está a andar decentemente.

(passa um pouco de tempo. marlon começa a adormecer)

Taxista (*lança um berro enorme e fino à menina!*) - AI MEU DEUXXXX!!!
Eu (*acorda e dá um salto no banco de trás*) - Que se passa? Batemos? Matou alguém?
Taxista (*com a, ainda, voz estridente de menina*) - O POMBO, O POMBO!
Eu (*aparvalhado com ar de quem acabou de adormecer*) - Mas que pombo?
Taxista - Eu matei um pombo! Nem dei por ele. Ximplexmente meteu-xe na minha frente.
Eu - Oh, por amor da santa! É um pombo.
Taxista - Max é uma vida xagrada para nosso xenhor jexux crixto.
Eu - Está a brincar certo?
Taxista - Com o pombo?
Eu (*tenta aproveitar a situação*) - Não, nada disso. O pombo para mim já é história passada. Podemos fazer um teste? Experimente dizer "a serpente samanta sibiliva à sombra das suas sósias cintilantes e sarcásticas".
Taxista (*com voz de macho*) - AH! AFINAL GOZAVA COMIGO!
Eu - E afinal não grita sempre com voz estridente. Fico aqui. Muito obrigado por tudo e aqui tem o seu dinheiro.

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