quarta-feira, 14 de abril de 2010

on the bound.

Um dia disseste que querias ver os meus olhos verdes. Pois ontem tive-os. Não pelas melhores razões é certo. Já não me lembrava, talvez por não o fazer desde os meus 12 anos, mas nestas alturas fico com os olhos verdes. Limpo-os, e consigo ver o esverdeado por entre toda uma penumbra aquosa que os esconde.


Demorei três hora a ver um filme de uma hora e meia porque parava a cada música. Dói-me a barriga de tanto o ter feito. Cada cena do filme, cada objecto que passava, cada cigarro que puxava, cada golo que dava no vinho me fazia lembrar de ti.


E da cozinha em wengue.
E do fogão que instalámos juntos.
E do IRS.
E do teu cinzeiro.
E da palha que fumas.
E do teu decanter.
E dos teus copos.
E do teu frigorífico.
E dos teus lençóis pretos.
E dos lençóis vermelhos.
E do teu duplo edredon.
E de como tu ficavas com a almofada dura para eu poder dormir bem.
E das velas.
E da tua mania de desligares o autocolismo.
E de como tinhas sempre calor.
E de como deixavas um pé de fora dos lençóis para manteres a temperatura
E de eu te ter mudado os canos.
E de como ligavas o PC à televisão para vermos filmes.
E da escolha de computadores.
E da máquina Nespresso que me ias comprar.
E do risotto.
E do frango, aquele primeiro que me fizeste.
E do Casal Garcia.
E das conversas que duravam horas.
E do chuveiro que só tinha 5 minutos de água quente.
E das vezes em que apanhei a roupa porque chovia.
E dos preservativos de chocolate.
E das tostas que me fazias.
E do teu sofá que teimava em perder a coberta.
E de ti.


Ai porra, se me lembrei de ti. De cata traço teu, de cada feição tua, de cada cara que fazia, de cada centímetro do teu corpo. Do quanto gostavas de mim, do quanto eu gostava de ti, de, foda-se, de tudo aquilo que gostava em ti. De como eras o pilar da minha vida.


Fugiste, como todos os outros fizeram. No fim não foste nem mais, nem menos, que todos os outros, que todos aqueles que me fizeram sofrer. Eras diferente. Serás sempre. Contigo via futuro. Futuro esse que me foi tirado debaixo dos pés sem notar, sem poder dizer que gostava ou deixava de gostar. Futuro esse que modificou e que não pude, nem deixaste!, fazer nada para o modificar. Mentira, foste diferente. Por ti fi-lo. Ininterruptamente durante uma hora, até me doer a barriga.


E agora, em casa da Laura, a ver mais um filme deprimente, agarrado a outra garrafa (sim, só assim adormeço), só penso em ti, em ter-te agarrado a mim uma última vez. Em puder ser uno contigo só mais uma vez. Quero-te. Quero-te de uma forma que nunca tive ninguém. E fugiste-me. Yet again.


"Então isto era o início da felicidade. E sempre me ocorreu que existisse mais. E nunca me ocorreu que aquilo não durasse para sempre. Que aquilo era A felicidade."

2 instantâneas:

Tiago Silva disse...

Este é daqueles momentos em que se tenta dizer algo, e não se consegue *sigh*

Marlon Francisco disse...

Não tens que dizer nada, querido.

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